Querida
anônima,
Escolhi
escrever para você, cujo namorado não está respeitando o tempo da sua
sexualidade, querendo transar apesar da sua vontade. Quantos argumentos ele já
não deve ter elaborado para te convencer, de quantas investidas você já não se
esquivou, percebendo ou mesmo sem perceber?
Agora,
me diz; eu quero saber: o seu #nãoénão tá bem internalizado, tá convicta, tá
segura do que é o melhor pra você, tá ciente de que, talvez, ele tente outra
manobra? Persuasão tá na
moda.
Se ele
te diz: que tipo de namorada é você?
Se ele
te diz: opções não me faltam, pode crê!
Se ele
te diz: pra uma feminista, você está démodé!
Como é
que fica você: se empodera ou se sabota? Digo isso porque, lamento informar, o movimento é bom, mas,
infelizmente, não basta um #nãoénão.
Mulher todo dia tem que se defender, até de si mesma, dazamiga, da família, da
mídia e da religião. Teu #nãoénão tem
que ter fundamentação.
Alimente
tuas convicções com leituras, certifique-se de entre as mulheres com quem
convive exista sororidade, analise os discursos de quem te aconselha, ouça tudo
sempre com a pulga atrás da orelha.
Agora,
já vou me despedindo e me desculpando pelo aparente tom de pessimismo, mas,
creia-me, não é questão de ceticismo quanto ao movimento, é que como somos seres
em desenvolvimento, o estado das coisas tende a mudar com pressa; o que ajuda
as mulheres hoje a não serem presas do machismo, pode não dar conta das futuras
remessas.
Transformações
dessa monta levam anos para ocorrer, porque são estruturais e estruturantes; a
história passa por momentos edificantes e degradantes: luz e trevas, luz e
trevas. Não se atreva a esquecer disso.
Sheherazade
não teve nunca esse atrevimento... Foram mil e uma noites de luta e
resistência. E agora, finalmente, já tenho um nome para te dar, querida
anônima: Sheherazade.
Um
abraço,
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