martes, 11 de septiembre de 2018




Querida anônima,
Escolhi escrever para você, cujo namorado não está respeitando o tempo da sua sexualidade, querendo transar apesar da sua vontade. Quantos argumentos ele já não deve ter elaborado para te convencer, de quantas investidas você já não se esquivou, percebendo ou mesmo sem perceber?
Agora, me diz; eu quero saber: o seu #nãoénão tá bem internalizado, tá convicta, tá segura do que é o melhor pra você, tá ciente de que, talvez, ele tente outra manobra? Persuasão tá na moda.  
Se ele te diz: que tipo de namorada é você?
Se ele te diz: opções não me faltam, pode crê!
Se ele te diz: pra uma feminista, você está démodé!
Como é que fica você: se empodera ou se sabota? Digo isso porque, lamento informar, o movimento é bom, mas, infelizmente, não basta um #nãoénão. Mulher todo dia tem que se defender, até de si mesma, dazamiga, da família, da mídia e da religião. Teu #nãoénão tem que ter fundamentação.
Alimente tuas convicções com leituras, certifique-se de entre as mulheres com quem convive exista sororidade, analise os discursos de quem te aconselha, ouça tudo sempre com a pulga atrás da orelha.
Agora, já vou me despedindo e me desculpando pelo aparente tom de pessimismo, mas, creia-me, não é questão de ceticismo quanto ao movimento, é que como somos seres em desenvolvimento, o estado das coisas tende a mudar com pressa; o que ajuda as mulheres hoje a não serem presas do machismo, pode não dar conta das futuras remessas.
Transformações dessa monta levam anos para ocorrer, porque são estruturais e estruturantes; a história passa por momentos edificantes e degradantes: luz e trevas, luz e trevas. Não se atreva a esquecer disso.
Sheherazade não teve nunca esse atrevimento... Foram mil e uma noites de luta e resistência. E agora, finalmente, já tenho um nome para te dar, querida anônima: Sheherazade.
Um abraço,

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