Capítulo
do livro: Os negros, a educação e as políticas afirmativas (Ana Lúcia Valente)
Ao fazer parte de um cursinho
popular, o primeiro contato com os alunos é feito através de um círculo – um
espaço voltado a discussões de temas relevantes – sobre educação e meritocracia
com cem alunos divididos em pequenos grupos. Em meu grupo, a discussão parte
para as ações afirmativas para os negros no acesso à universidade. Mesmo após
tentarmos contornar a situação, começou a gerar briga que até os demais grupos
passaram a participar, ou seja, cem alunos com pouco mais de dez professores.
A discussão continua até
conseguir chegar ao centro do círculo e pedir pra que todos olhem ao redor, que
contem quantos alunos, amigos ali são negros, quantos professores são negros,
até mesmo que lembrem quantos alunos e professores em suas escolas são negros.
Até que alguém fala que na sua sala não tem negros, outro percebe que apenas um
professor é negro.
A partir daí a conversa começa
a ser guiada com pontos históricos como, quando acabou a escravidão o que
aconteceu com a população negra, onde eles foram parar, onde estão os negros se
não estão na escola. Colocando também alguns dados, pois sabe-se que a
população negra é a que mais morre no Brasil. Mas, afinal, o que isso tem haver
com as cotas? Tudo! É essa população que tem um acesso extremamente restrito à
educação, muitos não estudam porque sofrem com o racismo ou porque tem que ir
trabalhar para ajudar na renda familiar, os que chegam até aqui são
pouquíssimos. Não há democracia racial, que se houvesse, seria igualitário o
acesso à escola, a empregos.
Assim, o objetivo não é e não
foi de tentar convencê-los se as cotas são boas ou justas, mas fazê-los pensar
em como se dá o acesso a escola, de quem é o direito de estar ali e como é
feita a permanência escolar.
Caro escritor
ResponderEliminarNossa, adorei a proposta da primeira discussão do cursinho, esse grupo professores era bom! Vamos arriscar fazer algo parecido com os integrados no próximo ano? Topa?
Abraços