martes, 11 de septiembre de 2018

"Bro, não foram os negros que criaram a divisão de raças, bro"



Capítulo do livro: Os negros, a educação e as políticas afirmativas (Ana Lúcia Valente)

Ao fazer parte de um cursinho popular, o primeiro contato com os alunos é feito através de um círculo – um espaço voltado a discussões de temas relevantes – sobre educação e meritocracia com cem alunos divididos em pequenos grupos. Em meu grupo, a discussão parte para as ações afirmativas para os negros no acesso à universidade. Mesmo após tentarmos contornar a situação, começou a gerar briga que até os demais grupos passaram a participar, ou seja, cem alunos com pouco mais de dez professores.
A discussão continua até conseguir chegar ao centro do círculo e pedir pra que todos olhem ao redor, que contem quantos alunos, amigos ali são negros, quantos professores são negros, até mesmo que lembrem quantos alunos e professores em suas escolas são negros. Até que alguém fala que na sua sala não tem negros, outro percebe que apenas um professor é negro.
A partir daí a conversa começa a ser guiada com pontos históricos como, quando acabou a escravidão o que aconteceu com a população negra, onde eles foram parar, onde estão os negros se não estão na escola. Colocando também alguns dados, pois sabe-se que a população negra é a que mais morre no Brasil. Mas, afinal, o que isso tem haver com as cotas? Tudo! É essa população que tem um acesso extremamente restrito à educação, muitos não estudam porque sofrem com o racismo ou porque tem que ir trabalhar para ajudar na renda familiar, os que chegam até aqui são pouquíssimos. Não há democracia racial, que se houvesse, seria igualitário o acesso à escola, a empregos.
Assim, o objetivo não é e não foi de tentar convencê-los se as cotas são boas ou justas, mas fazê-los pensar em como se dá o acesso a escola, de quem é o direito de estar ali e como é feita a permanência escolar.

1 comentario:

  1. Caro escritor

    Nossa, adorei a proposta da primeira discussão do cursinho, esse grupo professores era bom! Vamos arriscar fazer algo parecido com os integrados no próximo ano? Topa?

    Abraços

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