martes, 11 de septiembre de 2018

Na hora do pornô lésbico ninguém é homofóbico.”


            Prezados(as) colegas estudantes do IFSP.
            Ao tomar contato com algumas frases escritas por parte de vocês, me lembrei de fatos que vivi, direta e indiretamente, relacionados à homofobia e questões relativas à sexualidade das pessoas. Também fui provocado a relatar alguma experiência pessoal sobre preconceito, a princípio genérico, e imediatamente me lembrei de uma situação em que eu fui o preconceituoso. Isso ocorreu há mais de 25 anos, quando eu estava no Ensino Fundamental e, junto com meu grupo de amigos meninos, praticávamos o que conhecemos hoje por bullying contra um colega que achávamos “diferente” de nós. Usei o termo entre aspas pois apesar de à época o motivo das nossas ações (o comportamento “afeminado” do colega) nos ser claro, penso que não tínhamos a menor ideia do motivo que nos levava a repudiar isso. Hoje, adulto e possivelmente mais esclarecido do que naquele tempo sobre essa temática, tenho certeza sobre aquela ignorância.
            Esse é, portanto, o cerne daquilo que gostaria de dizer a vocês. Penso que não somente a homofobia, como grande parte dos pensamentos e ações preconceituosas, têm sua origem na ignorância, no desconhecimento. Eu chamo isso de “ignorância aprendida”, pois apesar de paradoxal, esse termo remete a um comportamento “aprendido”, uma vez que se trata de um algo espelhado nas ações geralmente praticadas por alguma referência, como a família ou os amigos, mas que apesar disso, formam um grupo de pessoas que pouco refletem criticamente sobre seu modo de pensar e de agir.
            Baseado em um texto que li para escrever esta carta, digo a vocês que é fundamental que se discuta aberta e fundamentadamente sobre homofobia nas escolas, nos lares, nas comunidades, nos grupos sociais e etc. Isso foi uma das origens dos movimentos sociais que ao longo da História conseguiram mudar alguns padrões comportamentais. Se hoje vejo o absurdo das minhas ações na infância, devo ao esclarecimento que tive ao longo dos anos, sobre o sofrimento daqueles(as) que são vítimas desse e de outros preconceitos. Porém, é importante ressaltar que essas mudanças começaram o ocorrer de maneira significativa na sociedade contemporânea somente a partir da década de 1970. Ou seja, ainda há muito a ser discutido e trabalhado sobre essas questões.
            Vivemos em um mundo contraditório, no qual informação e ignorância estão espalhados pelas ondas da internet. Cabe a nós, que temos acesso a espaços de reflexão, estudo e discussão sobre aquelas questões, o papel de sermos difusores desse conhecimento, na intenção de que mais pessoas possam reconhecer seus erros e mudar suas práticas. Seria esse, talvez, um compromisso democrático que temos, tendo em vista o objetivo de que um maior número de pessoas possa viver de maneira digna da forma como realmente se reconhecem, tendo a certeza que serão respeitados(as) por isso.
Atenciosamente,

1 comentario:

  1. Caro escritor, acredito que se reconhecer como sujeito que também possui e que tem atitudes de preconceito é um passo interessante para reflexão. Somos seres históricos e culturalmente preconceituosos e a nossa luta muitas vezes é contra nós mesmos. Parabéns pela iniciativa. Abraços

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