Prezados(as) colegas estudantes do
IFSP.
Ao tomar contato com algumas frases
escritas por parte de vocês, me lembrei de fatos que vivi, direta e
indiretamente, relacionados à homofobia e questões relativas à sexualidade das
pessoas. Também fui provocado a relatar alguma experiência pessoal sobre
preconceito, a princípio genérico, e imediatamente me lembrei de uma situação em
que eu fui o preconceituoso. Isso ocorreu há mais de 25 anos, quando eu estava
no Ensino Fundamental e, junto com meu grupo de amigos meninos, praticávamos o
que conhecemos hoje por bullying contra
um colega que achávamos “diferente” de nós. Usei o termo entre aspas pois
apesar de à época o motivo das nossas ações (o comportamento “afeminado” do
colega) nos ser claro, penso que não tínhamos a menor ideia do motivo que nos
levava a repudiar isso. Hoje, adulto e possivelmente mais esclarecido do que
naquele tempo sobre essa temática, tenho certeza sobre aquela ignorância.
Esse é, portanto, o cerne daquilo
que gostaria de dizer a vocês. Penso que não somente a homofobia, como grande
parte dos pensamentos e ações preconceituosas, têm sua origem na ignorância, no
desconhecimento. Eu chamo isso de “ignorância aprendida”, pois apesar de
paradoxal, esse termo remete a um comportamento “aprendido”, uma vez que se
trata de um algo espelhado nas ações geralmente praticadas por alguma referência,
como a família ou os amigos, mas que apesar disso, formam um grupo de pessoas
que pouco refletem criticamente sobre seu modo de pensar e de agir.
Baseado em um texto que li para
escrever esta carta, digo a vocês que é fundamental que se discuta aberta e fundamentadamente sobre homofobia nas escolas, nos lares, nas
comunidades, nos grupos sociais e etc. Isso foi uma das origens dos movimentos
sociais que ao longo da História conseguiram mudar alguns padrões
comportamentais. Se hoje vejo o absurdo das minhas ações na infância, devo ao
esclarecimento que tive ao longo dos anos, sobre o sofrimento daqueles(as) que
são vítimas desse e de outros preconceitos. Porém, é importante ressaltar que
essas mudanças começaram o ocorrer de maneira significativa na sociedade
contemporânea somente a partir da década de 1970. Ou seja, ainda há muito a ser
discutido e trabalhado sobre essas questões.
Vivemos em um mundo contraditório,
no qual informação e ignorância estão espalhados pelas ondas da internet. Cabe
a nós, que temos acesso a espaços de reflexão, estudo e discussão sobre aquelas
questões, o papel de sermos difusores desse conhecimento, na intenção de que
mais pessoas possam reconhecer seus erros e mudar suas práticas. Seria esse,
talvez, um compromisso democrático que temos, tendo em vista o objetivo de que
um maior número de pessoas possa viver de maneira digna da forma como realmente
se reconhecem, tendo a certeza que serão respeitados(as) por isso.
Atenciosamente,
Caro escritor, acredito que se reconhecer como sujeito que também possui e que tem atitudes de preconceito é um passo interessante para reflexão. Somos seres históricos e culturalmente preconceituosos e a nossa luta muitas vezes é contra nós mesmos. Parabéns pela iniciativa. Abraços
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