martes, 11 de septiembre de 2018

meu avô passa a mão pelo meu corpo, um dia perdeu a graça e eu disse não





Quando você diz que seu avô passava a mão pelo seu corpo, isso me diz duas
coisa, no mínimo. Uma que você se deu conta disso, passou a ter consciência,
em determinado momento, de que aquilo que ele fazia era “passar a mão”. Outra
coisa é sobre seu avô ter uma atitude que, culturalmente, é aceitável e esperada
que um homem tenha, apesar de imoral, esta condição de “aceitável” e
“esperada” até certo ponto é uma característica de uma sociedade como a
nossa: ocidental, brasileira, século XXI.
Tal atitude revela muito mais aspectos sobre as outras pessoas do que sobre o
seu avô. Não significa que deva ser uma atitude esperada e muito menos
aceitável de fato, tanto que é passível de punição na forma da lei. No entanto, é
assim que nossa sociedade entende o papel de “homem com H maiúsculo”, ou
seja, um homem adulto.
O homem numa sociedade machista deve corresponder à necessidade e ao
desejo sexual, seja com qual (tipo de) mulher for. Inclusive o preconceito com
homossexuais ocorre contra os homossexuais e não contra homens que se
satisfazem sexualmente mesmo que com homossexuais, pois estes últimos
trazem a figura feminina: subjugada, subordinada, submissa.
É “inaceitável”, culturalmente, que um homem não tenha desejo sexual, mas esta
condição é aceitável da parte de uma mulher. Isso não significa que deva ser
assim. Nossa voz, nossa denúncia deve ser o primeiro passo para evitar o abuso,
sejam esses homens avôs, pais, tios, irmãos, vizinhos, conhecidos, ou qualquer
outro. Mas não é suficiente que pare por aí.
A educação para a igualdade deve ser o foco maior, pois é urgente a mudança
de mentalidade em nossos dias. Seu avô não é apenas culpado, mas também
vítima. Ele é um dos frutos da mentalidade difundida em nosso dia-a-dia pelas
mais banais e corriqueiras atitudes. Piadas e insultos leves aos meninos que
sentem vergonha ou não querem se aproximar de uma menina. Situações em
que a mulher é chamada de histérica ou louca abrem precedentes para que a
denúncia de uma mulher seja questionável. A brincadeira com questões sérias
como as “obrigações” dos homens e das mulheres são um indicador do quanto
ainda temos que caminhar no sentido de mudar mentalidade de forma coletiva
no que se refere à sociedade que traz forte os traços do patriarcado, ainda
indissolúvel até os dias atuais.

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