Olá Pessoal
Essas são algumas cartas escritas especialmente para os alunos do ensino médio integrado do IFSP- São Carlos, em devolutiva a uma atividade que envolveu frases de impacto sobre respeito ao outro.
As cartas foram escritas pelos alunos da Especialização em Educação: Ciência, Tecnologia e Sociedade.
Quer saber mais sobre o IFSP, acesse o Link:
https://scl.ifsp.edu.br/portal/
Comentários e devolutivas das cartas são bem vindas.
Mais informações sobre a atividade pelo e-mail crios@ifsp.edu.br
Profa. Dra. Carla Ariela Rios Vilaronga
Docente do IFSP- São Carlos
Coordenadora Sociopedagógico
#nãoénãoIFSP
martes, 11 de septiembre de 2018
Na hora do pornô lésbico ninguém é homofóbico.”
Prezados(as) colegas estudantes do
IFSP.
Ao tomar contato com algumas frases
escritas por parte de vocês, me lembrei de fatos que vivi, direta e
indiretamente, relacionados à homofobia e questões relativas à sexualidade das
pessoas. Também fui provocado a relatar alguma experiência pessoal sobre
preconceito, a princípio genérico, e imediatamente me lembrei de uma situação em
que eu fui o preconceituoso. Isso ocorreu há mais de 25 anos, quando eu estava
no Ensino Fundamental e, junto com meu grupo de amigos meninos, praticávamos o
que conhecemos hoje por bullying contra
um colega que achávamos “diferente” de nós. Usei o termo entre aspas pois
apesar de à época o motivo das nossas ações (o comportamento “afeminado” do
colega) nos ser claro, penso que não tínhamos a menor ideia do motivo que nos
levava a repudiar isso. Hoje, adulto e possivelmente mais esclarecido do que
naquele tempo sobre essa temática, tenho certeza sobre aquela ignorância.
Esse é, portanto, o cerne daquilo
que gostaria de dizer a vocês. Penso que não somente a homofobia, como grande
parte dos pensamentos e ações preconceituosas, têm sua origem na ignorância, no
desconhecimento. Eu chamo isso de “ignorância aprendida”, pois apesar de
paradoxal, esse termo remete a um comportamento “aprendido”, uma vez que se
trata de um algo espelhado nas ações geralmente praticadas por alguma referência,
como a família ou os amigos, mas que apesar disso, formam um grupo de pessoas
que pouco refletem criticamente sobre seu modo de pensar e de agir.
Baseado em um texto que li para
escrever esta carta, digo a vocês que é fundamental que se discuta aberta e fundamentadamente sobre homofobia nas escolas, nos lares, nas
comunidades, nos grupos sociais e etc. Isso foi uma das origens dos movimentos
sociais que ao longo da História conseguiram mudar alguns padrões
comportamentais. Se hoje vejo o absurdo das minhas ações na infância, devo ao
esclarecimento que tive ao longo dos anos, sobre o sofrimento daqueles(as) que
são vítimas desse e de outros preconceitos. Porém, é importante ressaltar que
essas mudanças começaram o ocorrer de maneira significativa na sociedade
contemporânea somente a partir da década de 1970. Ou seja, ainda há muito a ser
discutido e trabalhado sobre essas questões.
Vivemos em um mundo contraditório,
no qual informação e ignorância estão espalhados pelas ondas da internet. Cabe
a nós, que temos acesso a espaços de reflexão, estudo e discussão sobre aquelas
questões, o papel de sermos difusores desse conhecimento, na intenção de que
mais pessoas possam reconhecer seus erros e mudar suas práticas. Seria esse,
talvez, um compromisso democrático que temos, tendo em vista o objetivo de que
um maior número de pessoas possa viver de maneira digna da forma como realmente
se reconhecem, tendo a certeza que serão respeitados(as) por isso.
Atenciosamente,
Sou preto, mas não sou ladrão
Dentre
tantas frases elaboradas, a sua despertou a necessidade de comunicar-me com
você. Então, por meio dessa carta espero compartilhar conhecimentos que adquiri
no decorrer dos meus 23 anos.
Sua
frase diz “Sou preto, mas não sou
ladrão”.
De
início fiquei incomodada com o “mas”
da frase. Porque estaria ali?
Ao
falar, não nos damos conta de que essa palavra, o “mas” nessa frase, significa
uma exceção, uma justificativa... Um preconceito. Obviamente não foi a
intenção, mas você consegue perceber?
Para
ficar mais compreensivo, você já ouviu um “Sou
branco, mas não sou ladrão”, possivelmente
não, né? E por que não?
Esse
discurso é uma construção social. A sua frase é, claramente, uma defesa, o resultado
de várias experiências que você teve e que por isso, está constantemente, se
reafirmando como cidadão de bem. Dessa forma, entendo sua frase.
Mas,
vamos fazer o seguinte. Seja crítico com aquilo que você escuta/fala e
lembre-se sempre que “Você não é aquilo
que as pessoas dizem que você é” e que apesar da sociedade racista que
estamos inseridos, você não precisa se reafirmar o tempo todo, mas sim lutar
pelos seus direitos como cidadão parte de uma sociedade democrática.
Espalhar
suas conquistas e incentivar outros e outras jovens a fazerem o mesmo
contribuirá para o desenvolvimento de indivíduos
engajados na mudança social, em direção a uma sociedade mais justa.
Deixo
como reflexão uma frase muito sábia, do grande Nelson Mandela.
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de
sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se
podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”
Com Carinho.
O contrário de feminismo é ignorância..
Frase
escolhida: “O contrário de feminismo é ignorância...”
Querida
(o) estudante! Como vai?
Ao ter contato com todas as frases, a
sua, me chamou a atenção para escrever sobre o assunto. Sou mulher e
ultimamente tenho me dedicado a estudar e entender um pouco melhor sobre o
movimento feminista e a luta das mulheres pela igualdade, e eu concordo com
você: o contrário de feminismo é ignorância, mesmo!
Primeiro, é importante entender que
mesmo reconhecendo a luta feminista, há muitas formas de “ser mulher” e mesmo
buscando a igualdade, não somos todas iguais. Cada uma tem sua história, sua
trajetória de vida, suas preferências, seu lugar de nascimento, e tudo isso nos
torna seres humanos, e a chave para esse enigma não é reconhecermos todas e
todos como iguais, mas respeitarmos as diferenças e aceitarmos a alteridade,
reconhecendo a (o) outra (o) naquilo que a (o) torna única (o)! Mas, isso é um
exercício diário, e muito difícil – mas não impossível!
Então, existem vários tipos de
movimentos feministas porque as mulheres, mesmo todas lutando por direitos
iguais, ainda têm algumas questões que as separam de outras, como por exemplo, o
das as mulheres negras, das mulheres trans (“transfeminismo”), algumas que são
mais liberais, outras mais radicais.
Por conta das variações e a
multiplicidade dentro do feminismo, a gente usa o conceito de sororidade, (essa palavra ainda é nova e
nem existe no dicionário) mas ela quer dizer respeito mútuo entre as mulheres,
respeitando todas essas diferentes formas de ser mulher! Demais, né?
São muitas questões, mas é muito importante
discutir tudo isso, se não caímos no poço da ignorância! Ignorância de não se
abrir a discussão, de perpetuar o preconceito e a discriminação não permitindo
o exercício dos direitos humanos. Enquanto isso precisamos estudar e nos
empoderar para mostrar as pessoas que as diferenças foram construídas histórica
e socialmente.
Me chamaram de viado, eu disse “não sou viado, sou LGBT”.
Frase: Me chamaram de viado, eu disse
“não sou viado, sou LGBT”.
Quatro
letras. Quatro letras que fazem toda diferença. Uma sigla que resume todo um
período de décadas de lutas em defesa da identidade, do respeito e dos direitos
civis.
Primeiramente,
gostaria de dizer que é lamentável que episódios como esse, muitas vezes
sutilmente disfarçados como “brincadeiras”, aconteçam no ambiente escolar.
Lugar que vai além de um espaço de assistir aulas, mas também de formação da
cidadania, criação de círculos de amizades e de laços de confiança. Mas ao
mesmo tempo em que tais episódios nos remetam a tristeza e constrangimento, é
de extrema importância atitudes como a sua, de resistência, de contestar, de
reafirmar a identidade e a defesa do respeito para todos. De mostrar para o
opressor, que além de se educar para uma melhor convivência social, ele deve
ser constrangido, corrigido, apontado e até exposto. Em uma sociedade
marcadamente patriarcal e heterossexual, fazer atitudes agressivas como essas
são colocadas como naturalizadas no cotidiano, e é justamente nesse ponto que não
podemos nos abater na luta.
Para
encerrar, gostaria de destacar aqui elementos que podem contribuir para
discussões como essas. É de muito valor que tal debate seja levado a diferentes
espaços, principalmente aqueles em que o movimento estudantil constrói suas
bandeiras (centros acadêmicos, diretórios acadêmicos, União Nacional dos
Estudantes) e de que é possível também incluir esse debate nos fóruns dos
profissionais da educação (sindicatos, associações docentes, grupos de
pesquisa). Não nos esquecendo também que essa luta deve fazer da parte do
ambiente escolar enquanto instituição, fazendo parte de seus planos de ensino,
projetos institucionais, setores sócio pedagógicos.
Que
possamos juntos construir um ambiente plural, democrático e solidário para tod@s.
Sou preto, não sou ladrão!
Frase: Sou preto, não sou ladrão!
Olá! Como vai?
Quando eu li a sua frase, já me veio
a cabeça: Qual situação que você vivênciou que fez com que você escrevesse esta
frase? Pensando nisso resolvi escolhê-la para tentar mostrar nesta carta o
porquê que até hoje escutamos esse tipo de comentário….
Começando por um questão que sempre
me apareceu durante as minhas leituras: E de onde surge essa palavra preto?
Bom, vasculhando… temos alguns relatos em cartas escritas pelos portugueses no
século XV, durante suas navegações e explorações pelo continente em que
vivemos, a América! Nessas cartas, eles descreviam as pessoas de pele mais
escura como pessoas pretas… porém, foi com os espanhóis que a palavra “negro”
aparece com o sentido de “escravo” e a partir daí os portugueses também
começaram a adotar a palavra “preto” e “negro” para todos os africanos que eles
raptaram e escravizaram, ou seja, pense comigo: Você tem uma palavra que é
usada para identificar uma cor a algo ou de alguma pessoa, mas aí vem outra
pessoa e usa essa mesma palavra para identificar um grupo de pessoas que foram
colocadas como inferior ao seu grupo… Olha que coisa louca! Que uma palavra
pode ser usada para um sentido de inferiorizar alguém ou algum grupo.
Bom, mas aí passados o período da
escravidão e aqui no Brasil nós ainda fomos os últimos a libertar os escravos,
então imagina você que foram 400 anos de escravidão no nosso país, que o
período de libertação é recente, fomos libertos apenas em 1.888… então, não é
difícil de acreditar que ainda hoje você tem que escutar a frase: Você é preto,
então você é ladrão!
Mas, com tudo isso foram surgindo
pessoas que começaram a pensar sobre essa situação do negro no nosso país, elas
se organizaram e fundaram movimentos, então hoje nós temos o Movimento Negro,
por exemplo, que foi importantíssimo para garantir os direitos e as leis para a
população negra, dentre elas a lei do racismo, a 7.716/89, que poderíamos
colocar a frase: Você é preto! Você é ladrão, como exemplo, a pessoa que fala
isso ela pode ser denunciada e punida pois está cometendo um crime que resulta
da cor ou da raça de alguém.
O Movimento Negro também garantiu a
reserva de vagas nas universidades para pessoas que se autodeclaram negras
(pretas ou pardas), para terem acesso a uma educação pública e de qualidade!
Então, veja você a importância desse grupo e de outros que lutam para garantir
os direitos de um determinado grupo da nossa sociedade que é excluído há muito
tempo.
Gostaria de poder escrever mais
sobre esse assunto e discutí-lo com você! Espero que tenha feito sentido essa
minha explicação e espero que você tenha oportunidades na vida que foram
garantidas pela luta desses movimentos sociais!
Até
Breve!!!
O game que jogo não define minha sexualidade... me respeite
O game que jogo não define minha sexualidade. Me respeite!!!” #LoL_não_é_game_de_viado!Saudações camarada gamer! Aqui vos fala alguém que viu os jogos saírem do
modo single player offline e adentrarem na era do multiplayer online, onde o preconceito
ocorre de diversas formas e é potencializado pela internet e suas mídias sociais, campos
férteis para trolls, que geralmente se escondem no anonimato, através do qual a rede
possibilita destilar ódio e semear a discórdia. Você já deve ter vivenciado ou
testemunhado em primeira mão os requintes cruéis da comunidade gamer e sua
natureza basicamente tóxica. Tal característica fica muito mais evidenciada quando
trocamos o foco para a cultura gamer especificamente brasileira (huehueBR). No LoL
em específico essa associação começou por causa de um comentário infeliz do
youtuber Cauê Moura em um de seus vídeos, ele disse algo pejorativo em relação aos
jogadores de LoL por ter campeonato de LoL no campus party e não ter de Battlefield3.
Devo discordar de sua hashtag pois LOL é um jogo onde heterossexuais e
homossexuais - inclusive segundo a Riot Games o atirador Valrus é o primeiro
Champion gay do universo de LoL - podem competir em pé de igualdade e longe dessas
discriminações. Posso ao mesmo tempo concordar com você quanto à sua afirmação
de que um jogo não define a sexualidade de ninguém, só a própria pessoa é capaz
dessa tarefa. Um exemplo completamente oposto à lógica machista relacionada a
alguns jogos é meu camarada Felipe, 22 anos, antigo jogador de nosso clã de CS e
homossexual assumido. Tais informações só se tornam pertinentes ao nosso assunto
quando lhe informo que o mesmo foi o primeiro colocado em uma competição de Fifa
por dois anos seguidos em campeonatos feitos em minha cidade com centenas de
milhares de habitantes. Vale lembrar que para a comunidade gamer Counter Strike e
jogos de futebol são o ápice da “macheza”.
Hugh Forrest, diretor do SXSW Interactive escreveu no seu twitter: “Se pessoas
não podem concordar, discordar e abraçar novas formas de pensar em um local seguro
online e offline, esse mercado de ideias está inevitavelmente comprometido”. Devo
reforçar essa linha de pensamento através de uma das ideias de certo intelectual
brasileiro que dizia que basicamente todas as práticas são ideológicas, a questão era
se essa prática seria includente ou excludente. Nós gamers já temos que encarar um
grande volume de preconceitos da sociedade sobre a nossa prática que historicamente
e culturalmente nos tarja de geeks e desocupados sendo que novas competições como
o CBLoL e suas premiações para jogadores profissionais provam exatamente o
contrário. Por essas e outras não podemos alimentar novos preconceitos dentro de
nossas próprias comunidades, e mais ainda, devemos ativamente combater essa
nefasta prática
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